Temer, ordem e progresso

Com a substituição de Dilma por Michel Temer e as mudanças no programa de governo, o Brasil tem um novo slogan (acompanhado de um novo logotipo). Essa imagem associa o Governo Federal a diversos tipos de programas, além de ser veiculado na impressa privada e na oficial como símbolo de governo. É praxe escolher um slogan que represente, em teoria, as prioridades do comando da nação. Até ontem, o oficial era “Brasil: Pátria educadora”. Hoje, com as mudanças na chefia do Executivo, o slogan passa a ser o mesmo que aparece na bandeira nacional: "Ordem e Progresso". Interessante que a escolha do tema nos remete a muitos pontos históricos, veja alguns.


A bandeira brasileira já passou por algumas mudanças. Na época do Império, por exemplo, o brasão da Família Real era o símbolo nacional máximo. Um tempo depois, de forma provisória e por poucos dias após a recente Proclamação da República, a bandeira foi trocada por uma muito próxima à dos Estados unidos, com exceção das cores, que permaneceram com predominância do verde e do amarelo, e das estrelas que representavam os estados nacionais. Já em 19 de novembro de 1889 entrava em cena a bandeira atual do Brasil com o lema de “ordem e progresso”.

O tema da bandeira – e o escolhido pelo Presidente em exercício – remente ao Positivismo, uma das primeiras correntes do pensamento social que tentou organizar alguns princípios a respeito do homem e da sociedade. Talvez tenha sido um início de tentativa de explicar a organização social de forma científica, ou seja, através de metodologia e de regras. O principal pensador dessa corrente foi o francês Auguste Comte (1798-1857).

O pensamento de Comte derivou do cientificismo, ou seja, da crença absoluta no poder da razão em conhecer a realidade e traduzi-la em leis naturais que substituíram explicações teológicas predominantes até então. Em resumo, era um esforço para compreender o homem e a sociedade à luz da ciência racional.

No período de desenvolvimento destacavam-se os avanços no campo da física, da química e da matemática. O pensamento científico era, portanto, moldados por essas áreas do conhecimento e também influenciados por elas. O Positivismo, dessa forma, aproveitou-se dessa atmosfera, atrelou o conhecimento social às ciências exatas, chegando a ser conhecido como “física social”. Para os defensores da ideia, a sociedade precisa ser entendida como um organismo vivo, constituído por partes integradas de funcionamento harmônico tendendo ao progresso. Assim, qualquer problema verificado nesse processo deveria ser eliminado como aconteceria se um cientista verificasse a existência de um vírus no caminho para uma descoberta significativa.

O otimismo positivista foi muito divulgado pelos núcleos de saber da época. Muito desse entusiasmo devia-se ao progresso do desenvolvimento industrial em pleno vapor. No entanto, à medida que o progresso industrial ganhava forma, os conflitos sociais também se ampliavam. Aumentava o número de empobrecidos e explorados; operários e camponeses ficavam à margem do tão festejado progresso. A sociedade industrial dava sinais claros de que não era assim tão evoluída.

Mas lembremos de que o tema era “Ordem e Progresso” ou, para esse momento de análise em especial, “Ordem PARA o progresso”. Assim, disseminava-se a ideia de que a evolução social só levaria a sociedade da mais simples para a mais complexa e evoluída se existisse um ajuste dos indivíduos às condições estabelecidas que, por sua vez, garantiriam melhor funcionamento da coletividade e o bem-estar da maioria da população.

Nesse cenário, reivindicações, sobretudo a dos pobres e marginalizados pelo processo de industrialização, deveriam ser contidas para não colocar em risco a ordem ou o funcionamento da sociedade. Não podiam, por fim, prejudicar o “progresso”.

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