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[Diário da Liberdade] Quem são os pós-modernos e por quais motivos lutam contra eles os marxistas

Existe uma atual discussão sobre noções da pós-modernidade. Muito embora esses debates se resumam ao conceito de “pós-moderno”, parece que o termo também ganhou a função de “coringa”, ou seja, serve a qualquer proposta alternativa que possa se sustentar frente a uma dualidade que não apresenta muita sustentação teórica.

Frente às questões levantadas por essa corrente, existe aquela que nutre, digamos, uma “desesperança” frente às propostas propagadas ao longo dos últimos tempos para a superação do capitalismo como modelo econômico e social. Assim, gerou-se um “relativismo” às latentes questões sociais que buscavam a supressão da luta de classes como motor da História.

O texto abaixo – “Quem são os pós-modernos e por quais motivos lutam contra eles os marxistas” –, de Diego Grossi, publicado originalmente no Diário da Liberdade, busca dialogar com essa concepção apresentando seus conceitos introdutórios, bem como busca traçar um paralelo entre a vertente e o marxismo.



Quem são os pós-modernos e por quais motivos lutam contra eles os marxistas

[Diego Grossi] Veja dez considerações introdutórias sobre o que é o pós-modernismo.

A partir do processo em que as jornadas de junho de 2013 foram a expressão mais notória o Brasil vem vivendo um momento de acirramento da mobilização das massas em torno dos conflitos políticos. Um importante segmento social a se destacar nessa cena vem sendo aquele oriundo das camadas médias, que vêm oxigenando tanto forças à direita (a partir de forte inclinação ao fascismo) quanto à esquerda, em que uma das expressões, com base especialmente entre os meios estudantis, está na formação de coletivos identitários influenciados pelo pós-modernismo. Com forte caráter anticomunista, latente ou declarado, estes segmentos pós-modernos vêm disputando espaço com militantes marxistas. Todavia, é frequente por parte de pessoas influenciadas pelo pós-modernismo a fuga das críticas, alegando uma suposta banalização do conceito de "pós-modernismo" ou se ancorando num alegado dogmatismo por parte dos críticos que, dizem, chamariam de "pós-modernismo" qualquer coisa que fugisse da sua "ortodoxia sobre luta de classes" (sic). Então é necessário não só desmontar esse espantalho como ainda apontar, resumidamente, as principais críticas do marxismo ao pós-modernismo hoje.

1 - De fato o termo "pós-modernismo" é amplo por si mesmo, afinal, não designa uma escola de pensamento em específico e muito menos um movimento conscientemente organizado (nem há consenso entre seus críticos, mesmo no campo do marxismo). Existem vários autores sob seu guarda-chuva, assim como divergências entre estes, além do fato de poucos aceitarem o rótulo de "pós-moderno" (ou, o que é linguisticamente mais preciso, "pós-modernista"). Por isso, de início, vale considerar o pós-modernismo como um "fenômeno"; algo que se dá a partir de determinadas condições objetivas e que, apesar dos seus agentes reprodutores nem sempre terem consciência do fato de estarem inseridos no mesmo, possui uma série de características que, relacionadas entre si, permitem identificar uma manifestação de tal fenômeno e assim classificá-lo.

2 - Mas por qual motivo classificar esse fenômeno como "pós-modernismo"? Grosso modo pelo fato de partir de uma premissa cara aos seus primeiros formuladores: a suposta superação do que chamam de "modernidade". Para os pós-modernistas "puro sangue” a sociedade "moderna", do capitalismo industrial e baseada nos valores oriundos do iluminismo, teria sofrido profundas mudanças qualitativas e quantitativas que teriam levado a modernidade à superação - logo, viveríamos numa "era pós-moderna". Assim, quando se aponta que alguém é "pós-moderno" (e, talvez fosse mais correto chamá-lo de "pós-modernista") está se falando em algo como "apologista do pós-modernismo"; ou seja, de alguém que, conscientemente ou não, abraça a ideia de superação da "modernidade" por essa tal nova sociedade "pós-moderna" e projeta-se politicamente com base nesse princípio. Discordarmos dessa premissa - pois, ainda que com importantes mudanças, o modo de produção capitalista continua a manter suas principais caracterísicas, inclusive o conflito entre capital e trabalho como centro das contradições - e por isso acusamos sua existência, mesmo que implícita.

3 - Todavia, é importante destacar que não é uma polêmica meramente nominalista. Não seria tão problemático (ainda que, dependendo da abordagem, continuasse a ser problema) dizer que as mudanças existentes no capitalismo marcariam uma transição profunda para "novos tempos". O problema maior é a conclusão derivada: se a sociedade "moderna" estaria superada, os projetos políticos e ideológicos fundamentados na mesma também! Tais projetos seriam, basicamente, aqueles oriundos do iluminismo, baseados em noções como o uso da razão e da ciência como instrumento de compreensão da realidade, a busca por valores (como liberdade e igualdade) universalmente válidos, entre outros. No campo de "ideologias modernas" supostamente superadas por se basearem numa "modernidade" não mais existente (alegam) estaria o marxismo. Portanto, os pós-modernos (ou pós-modernistas) incorrem em um anticomunismo distinto daquele conservador ou reacionário. Para eles a "modernidade" estaria superada - como se algo tivesse passado da validade. Não seria questão de negar sua edificação em prol de conservar algo antigo, mas de constatar sua superação.

4 - Apesar das primeiras grandes manifestações pós-modernistas serem, grosso modo, vistas massivamente nos anos 1960 e 1970, é com a queda da União Soviética em 1991 que o pós-modernismo tem grande difusão. Segundo os aspirantes a coveiros da História, a queda da URSS demonstraria que os projetos "modernos" estariam superados. A última esperança oriunda do iluminismo, o socialismo, teria, aí, uma pretensa prova da sua falência.

5 - Assim, a humanidade não teria mais nenhum projeto capaz de ser universal e responsável por unificar as mais diversas demandas sob um programa geral (como a luta de classes contra o capitalismo pelo socialismo faria ao interligar a questão colonial, negra, de gênero, etc. à luta anticapitalista). Caberia, portanto (segundo os "pós-modernistas"), a cada "minoria" lutar por si mesma de acordo com suas próprias necessidades sem se preocupar com as demais questões.

6 - O pós-modernismo sustenta, dessa forma, uma espécie de "egoísmo coletivo": solidariedade exclusiva com os que compartilham das mesmas opressões. Vem sendo frequente nos meios militantes influenciados pelo pós-modernismo expressões como "não me silencie" ou "não roube meu protagonismo", por exemplo; que, apesar de parecerem exigir uma solidariedade inquebrantável, não passa de apologia do egoísmo - já que qualquer intervenção “externa” divergente, ainda que positiva e propositiva, incorreria, necessariamente, em reprodução de interesses de opressão.

7 - Portanto, é importante notar que o que separa marxistas-leninistas e pós-modernistas não é o apoio ou não às lutas das chamadas (frequentemente de forma errada) "minorias". O marxismo luta por "minorias" desde muitas décadas antes do pós-modernismo existir. Enquanto liberais como Locke, Montesquieu e até mesmo Stuart Mill justificavam, em maior ou menor escala, a escravidão, Marx foi um grande crítico dessa instituição. Engels, numa das obras mais seminais do marxismo, "A origem da família, da propriedade privada e do Estado", inspirado nos socialistas utópicos, deu papel de destaque à questão da mulher ao notar que na origem da propriedade privada estaria também o "pecado original" que estabelecia o domínio dos homens sobre as mulheres. O Dia Internacional da Mulher foi obra da II Internacional a partir da proposta da comunista Clara Zetkyn. Um dos grandes mecanismos que permitiu o sucesso do socialismo no século XX foi a capacidade da III Internacional (Internacional Comunista) dar resposta à luta dos povos oprimidos contra o neocolonialismo. Graças à postura dos comunistas, era comum que qualquer militante do movimento negro dos EUA fosse chamado de "bolchevique". Apesar da questão LGBT ter recebido tratamento inadequado por parte considerável dos marxistas (inclusive na obra de Engels citada), hoje países como Cuba vêm corrigindo essas falhas. Os marxistas sempre lutaram e continuarão a lutar por qualquer bandeira que se mostre justa.

8 - Porém, mesmo com contradições profundas entre as perspectivas de tipo marxista e as pós-modernas não raro as críticas sobre pós-modernismo recaem também em cima de alegados militantes socialistas. Sobre isso é importante notar o que foi dito no primeiro ponto: pós-modernismo enquanto fenômeno passível de ser identificado por determinadas características. O Brasil historicamente recebeu e produziu expressões liberais bem conservadoras. Aqui qualquer bandeira progressista tende a ser relegada à esquerda socialista (ou que se alega como tal). Pessoas que defendem tais bandeiras geralmente não encontram espaço fora da esquerda e, assim, acabam fazendo uma mixpórdia de ideologias na sua própria cabeça.

9 - Algumas características que permitem identificar a manifestação do fenômeno pós-modernista nos meios militantes aparecem "originalmente" como fundamentações teóricas e ideológicas que dão sustentação à premissa principal sobre uma suposta superação da modernidade, como: a) negação da ciência (nítida na acusação de que a ciência seria "uma invenção da sociedade ocidental patriarcal opressora" ou no apontamento de que qualquer debate teórico seria "academicista"); b) a contestação sobre a existência de verdades universalmente válidas (muito presente, de forma implícita, na sacralidade da "vivência", em que cada um teria a "sua verdade", que não poderia ser cientificamente constatada ou refutada enquanto uma "verdade única"); c) o culturalismo, mecanismo excelente de negação da realidade objetiva em prol das questões subjetivas; d) a redução na realidade aos discursos produzidos sobre a mesma (assim, por exemplo, buscaram combater uma opressão estrutural mudando os discursos ao pretenderem apagar o gênero das palavras usando uma letra “neutra”, o "x”, no lugar de vogais tidas como masculinas e femininas - de alunos/alunas para “alunxs”); e) a diluição de noções de "poder" e "política" (enquanto para o marxismo nenhum dos dois pode ser descolado do conceito de Estado, para pós-modernos, talvez a partir de Foucault e suas ideias sobre "micro-poderes", pautas como “empoderamento individual” aparecem em detrimento do controle do poder em torno do Estado); f) o já comentado egoísmo coletivo, no qual as lutas contra as opressões sobre "minorias" não são dadas a partir de uma constatação objetiva da realidade concreta julgada por valores universais, mas sim como questões de ordem moral; e g) o multiculturalismo e a tosca ideia de que um elemento cultural é propriedade privada de um povo e que se não for assim há "apropriação cultural" (o que tem muito a ver com os já comentados multiculturalismo e negação da universalidade).

10 - Por conta da dificuldade encontrada pelos pós-modernos no que concerne à defesa de seus absurdos, é cotidiano que se esquivem do debate ao bradarem acusações de que todos os críticos seriam conservadores ou pessoas interessadas na manutenção de “opressões” - o que vem gerando, inclusive, episódios de agressão (aberta ou não - como campanhas caluniosas contra mulheres e homens comunistas). Entretanto, basta uma breve consulta bibliográfica para constatar o contrário. Grandes nomes progressistas das ciências humanas e sociais, brasileiras e internacionais, como Ellen Wood e Ciro Flamarion Cardoso, possuem vasta obra de críticas que vão dos fundamentos epistemológicos até os movimentos sociais/seitas pós-modernistas. Logo, combater o pós-modernismo é tarefa de qualquer um que acredite que existe uma realidade objetiva que não só pode ser compreendida através da razão e da ciência, como também transformada e melhorada a partir dos resultados dessa compreensão - especialmente da parte da militância marxista. Afinal, o pós-modernismo é, como foi comentado, inerentemente anticomunista nos fundamentos epistemológicos e nas ações propostas. O que está em jogo não é a defesa ou não das lutas e dos movimentos de “minorias”, mas sim a forma de fazê-la. Enquanto marxistas propõe, de um lado, fazê-la a partir da integração dos setores progressistas da sociedade sob um programa de caráter emancipatório universal baseado no acúmulo do conhecimento geral de toda a humanidade e na análise científica da sociedade; pós-modernos reduzem-na a seitas identitárias que tomam como dever apenas a luta da própria “minoria” (e que frequentemente entram em contendas entre si para disputar o lugar de “oprimido por excelência”), abrindo mão do conhecimento humano acumulado e da ciência em prol da abordagem apenas moral da opressão, incorrendo, por vezes, na própria oxigenação com base na manutenção do mero ódio contra aqueles que não compartilham diretamente da mesma opressão, levando a um modus operandi que não raro flerta com as práticas do fascismo clássico.

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Sugestões bibliográficas introdutórias para quem estiver buscando ter uma visão dos diversos aspectos do fenômeno e entender tal conceito, desde seus fundamentos teóricos até os motivos de divergência com os marxistas:

- CARDOSO, Ciro Flamarion. Epistemologia pós-moderna, texto e conhecimento: a visão de um historiador. Disponível em: http://www.uem.br/dialogos/index.php?journal=ojs&page=article&op=viewArticle&path[]=290>. Acesso em 10 jan. 2017.

- CARDOSO, Ciro Flamarion. História e paradigmas rivais (parte do livro "Domínios da História"). Disponível em: https://www.dropbox.com/s/8fwntn9be13vv0o/HIST%C3%93RIA%20E%20PARADIGMAS%20RIVAIS%20Ciro%20Flamarion%20Cardoso.pdf?dl=0. Acesso em 10 jan. 2017.

- WOOD, Ellen. Em defesa da História: o marxismo e a agenda pós-moderna. Disponível em: www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo262Art1.8.pdf.

Sobre o marxismo-leninismo e as lutas contra as diversas opressões vale consultar:

LOSURDO, Domenico. Revolução Russa e democracia no mundo. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/interthesis/article/viewFile/1807-1384.2015v12n1p361/29669. Acesso em 10 jan. 2017.

*Diego Grossi é mestre em História pela UFRJ.

Ideologia

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do "Grand Monde"
Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver

Os versos fazem parte da música Ideologia, de Cazuza, cantor que morreu em 1990. Suas letras fazem, quase sempre, questionamentos sociais; provocam e, à época, eram taxadas de “rebeldes”. Sempre que leio algum texto que tenta explicar ou busca amparo no termo “ideologia”, lembro-me dessa música. O termo tem sido muito citado, sobretudo nas mídias sociais, para, na maior parte das vezes, para justificar posicionamentos políticos ou temas relacionados. O problema é que muitas pessoas pensam saber o que significa “ideologia” ou – quero acreditar pelo menos nisso – buscam fontes pouco confiáveis. O propósito deste pequeno texto é, então, clarear o conceito de “ideologia”.

De forma geral, o termo “ideologia” pode ser conceituado como um conjunto de ideias, pensamentos ou visões de mundo que o indivíduo (ou um grupo deles) tem. Nessa simplicidade é que moram as subjetividades. O que garante, por exemplo, que as ideias ou os pensamentos entre as pessoas sejam iguais? É bem provável que você saiba que existem opiniões bastante distintas até entre pessoas bem próximas. Assim, a “ideologia”, ou o conjunto de ideias que regem determinados comportamentos ou pensamentos, pode assumir diferentes significados.

O primeiro cidadão a utilizar o termo foi o filósofo francês Destutt de Tracy (1754-1836) num livro intitulado Elements d’idéologie (Elementos de ideologia, em português). Tracy não pensava muito diferente do conceito que encontramos hoje nos dicionários. Para ele, “ideologia” era algo que contribuiria para uma ciência da gênese das ideias, ou seja, algo que organizasse as ideias humanas às percepções sensoriais do mundo externo.

Sendo sempre muito importante e interessante observar a realidade da vida dos autores que elaboram conceitos ou ideias, saiba que Tracy viveu majoritariamente numa França pós-revolucionária, sendo, portanto, observador do amplo processo histórico que aboliu o Absolutismo Monárquico no país. Foi partidário de Napoleão até fazer a autocrítica de que o sujeito, após o Golpe do 18 de Brumário, havia se transformado naquilo que combatia.

Saltando um pouco no tempo, “ideologia” também foi fortemente utilizado por Comte no desenvolvimento do seu Positivismo. Na sua adequação, Comte conferiu mais dois significados à palavra: 1) “atividade filosófico-científica que estuda a formação das ideias a partir da observação das relações entre o corpo humano e o meio ambiente, tomando como ponto de partida as sensações; e 2) conjunto de ideias de uma época, tanto como ‘opinião geral’ quanto no sentido de elaboração teórica dos pensadores dessa época”. (CHAUÍ, s/d. pp. 25-26).

Reparem que mesmo com algumas sutis mudanças entre os conceitos, as ideias permanecem, em essência, as mesmas, ou seja, “ideologia” continua sendo tanto para Tracy quanto para Comte um conjunto de ordenações sociais que determinam “o acreditar” ou a crença.

Ainda mais à frente, Marx também dedicou tempo na sua crítica ao capitalismo para refletir sobre “ideologia”. Para ele, “ideologia” seria um “conjunto de ideias que procura ocultar a sua própria origem nos interesses sociais de um grupo particular da sociedade” (LÖWY, 1985 p. 12). Percebam que a análise de Marx se distingue das anteriores por colocar no campo do conceito um sistema de ideias que legitimaria o poder de um grupo econômico ou social. Assim, para Marx, existiria uma “ideologia” da classe dominante e outra da classe dominada. Os filósofos marxistas estabeleceram adaptações ao longo do tempo e, dessa forma, “ideologia” passou a significar “qualquer concepção da realidade social ou política, vinculada aos interesses de certas classes sociais particulares”. (idem)

Existem muitos outros conceitos adaptáveis a esse tema, mas, fora a análise, é importante pensar que é praticamente impossível imaginar o humano sem valores, sem visões, sem paixões ou sem vontades; em resumo, sem ideologia. É por isso que é extremamente desconfortável bancar a ideia de que ideologias sejam quantificáveis. É fato, porém, que a História está repleta de casos onde determinados valores e ideias nefastas ganharam campo e eco (a ideologia fascista, por exemplo).

Paulo Freire, educador, sintetiza e finaliza bem essa polêmica. Dizia ele que “Não existe imparcialidade. Todos somos orientados por uma base ideológica. A questão é: a sua base ideológica é inclusiva ou excludente?”

Referências:

CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, s/d.
LÖWY, Michel. Ideologia e ciência social. São Paulo: Cortez, 1985.

Temer, ordem e progresso

Com a substituição de Dilma por Michel Temer e as mudanças no programa de governo, o Brasil tem um novo slogan (acompanhado de um novo logotipo). Essa imagem associa o Governo Federal a diversos tipos de programas, além de ser veiculado na impressa privada e na oficial como símbolo de governo. É praxe escolher um slogan que represente, em teoria, as prioridades do comando da nação. Até ontem, o oficial era “Brasil: Pátria educadora”. Hoje, com as mudanças na chefia do Executivo, o slogan passa a ser o mesmo que aparece na bandeira nacional: "Ordem e Progresso". Interessante que a escolha do tema nos remete a muitos pontos históricos, veja alguns.


A bandeira brasileira já passou por algumas mudanças. Na época do Império, por exemplo, o brasão da Família Real era o símbolo nacional máximo. Um tempo depois, de forma provisória e por poucos dias após a recente Proclamação da República, a bandeira foi trocada por uma muito próxima à dos Estados unidos, com exceção das cores, que permaneceram com predominância do verde e do amarelo, e das estrelas que representavam os estados nacionais. Já em 19 de novembro de 1889 entrava em cena a bandeira atual do Brasil com o lema de “ordem e progresso”.

O tema da bandeira – e o escolhido pelo Presidente em exercício – remente ao Positivismo, uma das primeiras correntes do pensamento social que tentou organizar alguns princípios a respeito do homem e da sociedade. Talvez tenha sido um início de tentativa de explicar a organização social de forma científica, ou seja, através de metodologia e de regras. O principal pensador dessa corrente foi o francês Auguste Comte (1798-1857).

O pensamento de Comte derivou do cientificismo, ou seja, da crença absoluta no poder da razão em conhecer a realidade e traduzi-la em leis naturais que substituíram explicações teológicas predominantes até então. Em resumo, era um esforço para compreender o homem e a sociedade à luz da ciência racional.

No período de desenvolvimento destacavam-se os avanços no campo da física, da química e da matemática. O pensamento científico era, portanto, moldados por essas áreas do conhecimento e também influenciados por elas. O Positivismo, dessa forma, aproveitou-se dessa atmosfera, atrelou o conhecimento social às ciências exatas, chegando a ser conhecido como “física social”. Para os defensores da ideia, a sociedade precisa ser entendida como um organismo vivo, constituído por partes integradas de funcionamento harmônico tendendo ao progresso. Assim, qualquer problema verificado nesse processo deveria ser eliminado como aconteceria se um cientista verificasse a existência de um vírus no caminho para uma descoberta significativa.

O otimismo positivista foi muito divulgado pelos núcleos de saber da época. Muito desse entusiasmo devia-se ao progresso do desenvolvimento industrial em pleno vapor. No entanto, à medida que o progresso industrial ganhava forma, os conflitos sociais também se ampliavam. Aumentava o número de empobrecidos e explorados; operários e camponeses ficavam à margem do tão festejado progresso. A sociedade industrial dava sinais claros de que não era assim tão evoluída.

Mas lembremos de que o tema era “Ordem e Progresso” ou, para esse momento de análise em especial, “Ordem PARA o progresso”. Assim, disseminava-se a ideia de que a evolução social só levaria a sociedade da mais simples para a mais complexa e evoluída se existisse um ajuste dos indivíduos às condições estabelecidas que, por sua vez, garantiriam melhor funcionamento da coletividade e o bem-estar da maioria da população.

Nesse cenário, reivindicações, sobretudo a dos pobres e marginalizados pelo processo de industrialização, deveriam ser contidas para não colocar em risco a ordem ou o funcionamento da sociedade. Não podiam, por fim, prejudicar o “progresso”.

#Ocupação

Acompanha a greve dos profissionais de educação do Rio de Janeiro um movimento de alunos que já toma conta de mais de trinta escolas (e o número cresce rapidamente a cada hora). Apoiados no recente movimento dos estudantes de São Paulo, que usaram as ocupações para parar a reorganização escolar naquele estado – movimento vitorioso –, a pauta dos estudantes daqui prevê, entre outras medidas, o retorno de funcionários essenciais, como porteiros e pessoal de limpeza além de melhores condições estruturais, sobretudo em escolas que a própria Secretaria de Educação reconhece sem condições de uso.

O que tem surpreendido ainda mais é a organização dos alunos nas ocupações. Obviamente que um movimento que a cada dia fica maior demanda muita estratégia e disciplina. Os alunos demonstram nos atos um preparo que muita gente duvidaria que pudesse existir. Se forem acompanhadas in loco, as escolas revelarão a existência de comissões com funções diversificadas; grupos de alunos que se dividem na manutenção do prédio, na realização de inventários, na alimentação e na organização pedagógica de aulões.

Mais do que o movimento em si, no entanto, esses alunos mostram a necessidade já latente da mudança do paradigma pedagógico escolar. A organização de eventos, oficinas e aulas abertas, mostra que a hierarquia escolar impositiva precisa ser repensada para o bem da escola transformadora que se sonha.

Nas ocupações não são raros os momentos de debates e decisões coletivas que dão o norte das atividades. Aulas de dança, capoeira, História, Língua Portuguesa, além da exibição de filmes que geram debates, são constantes. Não há, até o momento, nenhum caso ou relato de fracasso nessa vivência mais coletiva.

Talvez as ocupações sejam a prova de que é preciso dar mais voz, sem medo de perder o protagonismo, àqueles que formam a escola em imensa maioria: os discentes. Dificilmente esses alunos se conformarão com os tradicionalismos escolares característicos de regimes de acumulação de conteúdo sem lógica ou ligação com a vivência de cada um.

Nessa eterna e maravilhosa troca que é o verdadeiro conhecimento, essa é a hora de invertermos os papeis e deixar que aqueles que são diretamente interessados no processo escolar decidam como e porque aprendem.

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[Agência Brasil] Após um dia de ocupação, escola do Rio tem aulões e atividades

Macarthismo

A motivação para este pequeno resumo vem dos atuais acontecimentos no Brasil. É preciso deixar claro, no entanto, que a História não é uma simples repetição de fatos, como num ciclo infindável, mas consegue nos auxiliar nas interpretações de práticas e comportamentos sociais.

Quando me refiro aos acontecimentos brasileiros, falo, em especial, de casos de intolerância que beiram à neurose de outras – sombrias – épocas. São eventos como a agressão sofrida pelo arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, por uma mulher que, segundo algumas fontes, o taxou de “comunista infiltrado na Igreja”, juntamente com a CNBB1; como o do menino ameaçado porque vestia uma camisa vermelha imitando a bandeira da Suíça (sic)2; ou da mãe que teve negada uma consulta pediátrica ao seu filho por uma médica pelo suposto fato de pertencer ao PT3.

Esses casos tiveram repercussão na imprensa (e eu tomei bastante cuidado em não usar como fontes apenas sites mais “partidarizados”, buscando evidências em portais de grande mídia, igualmente partidarizados, mas, em geral, em oposição ao evento contado), mas, certamente, outros têm acontecido no Brasil graças à polarização que tomou conta do cenário político nacional.

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Durante a década de 1950, após o final da Segunda Guerra Mundial, portanto, inaugurou-se nos EUA uma histeria anticomunista que tinha no Senador Joseph McCarthy seu principal ator. Eram tempos de luta pela hegemonia mundial num mundo dividido ideologicamente entre os dois polos vencedores da guerra: EUA e URSS.

Assim, naquele período, uma série de medidas foi tomada no país da América do Norte com o objetivo de eliminar um pretenso “perigo vermelho”. Ainda em 1950, por exemplo, todos aqueles que simpatizassem com o comunismo precisariam se registrar. Outra ação foi a criação do “Comitê de Atividades Antiamericanas”, cujo objetivo era procurar, julgar e condenar qualquer pessoa que se alinhasse de forma mais progressiva frente à politica estadunidense.

O cenário foi de clara intervenção nas liberdades políticas e individuais de várias pessoas, dentre elas personalidades do cinema, cientistas e ativistas políticos, muitos deles sem qualquer envolvimento com ideias ditas de Esquerda.

CITAÇÕES E REFERêNCIAS

1“Dom Odilo é agredido em missa que marca início da celebração da Páscoa” http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/03/dom-odilo-e-agredido-em-missa-que-marca-inicio-da-celebracao-da-pascoa.html Acessado em 25 mar. 2016
“Vídeo do “Jornalistas Livres” que mostra a agressão a Dom Odilio”
https://www.youtube.com/watch?v=8BW95yMv0I0 Acessado em 25 mar. 2016
1“Não aceitamos que partidos se aproveitem para dar golpe, diz bispo” http://www.jb.com.br/pais/noticias/2016/03/21/nao-aceitamos-que-partidos-se-aproveitem-para-dar-golpe-diz-bispo/ Acessado em 25 mar. 2016
2“Polarização cria 'bullying político' em escolas”
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160322_salasocial_polarizacao_criancas_if Acessado em 25 mar. 2016
3“Ex-secretária de Estado do RS diz que pediatra recusou atendimento por motivos políticos” http://extra.globo.com/noticias/brasil/ex-secretaria-de-estado-do-rs-diz-que-pediatra-recusou-atendimento-por-motivos-politicos-18949292.html Acessado em 25 mar. 2016


ALGUMAS QUESTÕES SOBRE O TEMA

1- (FGV-SP) Podemos definir o macarthismo como:

A) Uma dura campanha de investigações dirigida por parlamentares norte-americanos, voltada a quem fosse considerado suspeito de subversão ou colaboração com os países comunistas.
B) Uma campanha antissemita que se estabeleceu nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial e que investigava as vinculações entre os judeus e os dirigentes soviéticos.
C) Uma campanha de investigações que se voltou contra sindicalistas, intelectuais e cientistas e poupou os artistas de Hollywood, os diretores de cinema e os escritores norte-americanos.
D) Uma campanha publicitária que procurava enaltecer o senador Joseph McCarthy, candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos da América e que era profundamente anticomunista.
E) Uma política de aproximação entre os EUA e a União Soviética liderada, na década de 1940, pelo socialista Joseph McCarthy, em virtude da necessidade de derrotar o nazifascismo.


2- Leia o trecho abaixo:

“[...] telefonou-me um comissário da polícia federal; segundo ordem que recebera, avisava-me que eu devia aguardar convocação para comparecer, em Washington, perante a Comissão de Atividades Antiamericanas. Éramos dezenove notificados. […] passei telegrama aos convocadores, acentuando que tinha em suspenso uma vasta empresa, com prejuízos sensíveis […]. Contudo – concluí –, como declaração prévia, posso desde logo adiantar que não sou comunista, nem jamais me inscrevi em qualquer partido ou organização política, sendo apenas o que se chama 'um pacifista'. Espero que isso não chocará (sic) a Comissão.
Atenciosamente, Charles Chaplin.”
CHAPLIN, Charles. Minha Vida. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.

A investigação de pessoas envolvidas com “atividades antiamericanas” atingiu diversos setores da sociedade estadunidense durante a década de 1950, inclusive os grupos artísticos de Hollywood. No contexto da Guerra Fria, essas investigações e perseguições deflagradas pelo macarthismo associavam o antiamericanismo ao:

A) fascismo.
B) nazismo.
C) nacionalismo.
D) comunismo.
E) liberalismo

GABARITO:
1- A // 2- D
(nível: fácil)

Constituições

Ainda sobre todo o cenário que envolve o Brasil, sobretudo aquele que invade a cena política, muito se tem falado sobre o que é ou não constitucional. Deixando de lado, por agora, algumas paixões ideológicas, foquemos no que é, para quê serve e qual é a História das Constituições brasileiras.

A Constituição é a compilação das máximas Leis de um país. A que vigora no Brasil data de 1988 e é conhecida como “Constituição Cidadã” porque marca, naquele período, uma fase de mudanças rumo à democracia depois de mais de vinte anos de regime militar. Mais à frente retornaremos a ela.

Além da de 1988, existiram mais seis Constituições no Brasil. Todas seguiram as linhas conjunturais históricas, retratando bem o que era o país de suas épocas.

A primeira Constituição do Brasil independente data do ano de 1824. Naquela época, o regime de governo era o império e a Constituição garantia a manutenção desse poder, dando muito valor ao “Poder Moderador”, de uso exclusivo do Imperador e que lhe garantia poderes ilimitados, caracterizando um país autoritário. Fato curioso era que a Constituição garantia também regalias às classes mais abastadas. Só gozava de direitos políticos aqueles que possuíssem renda igual ou superior a 150 alqueires de farinha de mandioca. Por esse fato, a Constituição de 1824 também passou a ser conhecida como “Constituição da Mandioca”.

Em 1891 uma nova Constituição entrou em vigor. Nela, os princípios do Positivismo* apareciam bem claros. A ideia de progresso através da ordem começava a nascer, mesmo que o atual lema da nossa bandeira republicana ainda não vigorasse. O texto constitucional tinha por base a Constituição dos EUA e foi o primeiro momento onde aparece a igualdade legal entre os cidadãos: “todos são iguais perante a lei”.

Uma nova Constituição só foi escrita em 1934, já no Brasil República, após o golpe de Vargas, em 1930. Essa nova redação tem muito a ver com o movimento Constitucionalista (A Revolta Constitucionalista) que estourou na cidade de São Paulo naquela época. Foi nesse documento que o direito ao voto secreto aparece pela primeira vez no lugar da farra do voto aberto do começo da República.

Em 1937, ainda com Vargas no poder, estabeleceu-se um novo texto constitucional. Os anos de 1930 estavam encharcados de totalitarismos. O mundo estava às portas de um novo conflito mundial, com potência ainda mais avassaladora do que a Primeira Guerra. Vargas assume uma postura ambígua, apoiando, naquele momento, os países do Eixo. Era época da Ditadura Varguista (Estado Novo) e nossa Constituição era uma cópia mal feita da Constituição da Polônia, à época sob regime totalitário. Essa Constituição ficou conhecida como “Polaca” e excluiu, por exemplo, o direito às greves.

Já em 1946, o mundo assiste ao lapso da democracia após a derrota do nazifascismo na Segunda Guerra Mundial. O Brasil não fica indiferente ao momento e estabelece uma nova Assembleia Constituinte com o objetivo de elaborar um novo código de leis para o Brasil. Esse documento retoma o ideal democrático do pós-guerra com o ressurgimento da liberdade de expressão e dos direitos individuais. A nova Constituição foi promulgada por Eurico Gaspar Dutra, ex-ministro de Vargas.

Em 1964 o Brasil sofre com o Golpe militar que impõe a ditadura. A Constituição atual, do pós-guerra, não combinava com a ideia de controle sobre as massas, características dos regimes fechados. Então, em 1967, um novo documento foi escrito, garantindo maior controle legal sobre a atuação de partidos políticos, sindicatos e suprimindo as liberdades individuais. Era a Constituição da Ditadura que foi sendo abastecida com os treze Atos Institucionais, sendo o quinto – o AI-5 – o mais famoso e cruel de todos.

Finalmente em 1988, após anos de repressão, o Brasil tem um código de leis alinhado com a democracia. É a Constituição cidadã mencionada no início do texto, criada a partir da Assembleia Constituinte, liderada por Ulysses Guimarães. A Constituição de 1988 espantou o Regime Militar e garantiu ampla liberdade de expressão e política. Entre outas conquistas individuais e coletivas, restabeleceu os três poderes da República, harmônicos e independentes, transformou o racismo em crime além de devolver o direito do habeas corpus.

Mas, como já mencionado, a Constituição de um país é fruto do seu momento histórico. A ditadura militar impôs mais de 20 anos de obscuridades ao país. O clamor popular pela volta da democracia foi, sem dúvida alguma, a mola mestra para o estabelecimento do novo texto constitucional.

*Positivismo: Mesmo que seja tema para outro texto, é bom esclarecer que o Positivismo foi uma das primeiras formas de pensamento social. Foi uma corrente que tentou organizar alguns princípios a respeito do homem e da sociedade, tentando explicá-los cientificamente. Seu principal pensador foi o francês Auguste Comte (1798-1857).

Chega de números e letras. Na Finlândia...

Dia desses comentei em sala de aula que ouvi queixas de uma mãe de aluna do pré-escolar sobre a “extensa” – segundo ela – carga livre que sua filha tinha no colégio. A indignação inexplicável nascia do fato da criança ter tempo livre demais, usado para brincadeiras e educação física. Para ela, a menina já tinha idade suficiente para entrar num ritmo de estudos sério e pra valer, ou seja, com horário e regras a cumprir.

O processo de educação é o que mais me chama atenção ultimamente. Entender cabeças, mentes e como se aprender alguma coisa é extremamente complexo. Motivador e desafiador, no entanto. Cada vez tenho mais certeza de que a estrutura escolar é um negócio chato e defasado. E pode ser em qualquer colégio: caro, barato ou gratuito. Deparo-me, dia a dia, com alunos que confundo com zumbis, completamente desconectados do mundo dos conteúdos. E pouco dispostos a mudar essa realidade.

Óbvio que reconheço que tenho culpa nesse processo, afinal, quem dá as cartas naquele recinto ainda sou eu; e mesmo que meu discurso seja de negação à sombria hierarquia tradicional, ainda mantenho nas mãos, por diversos fatores, as cartas a serem jogadas à mesa.

Agora há pouco, quando vasculhava fontes e buscava o que ler, deparei-me com esse texto: "Educação Infantil: Chega de números e letras. Na Finlândia, as crianças aprendem somente a brincar e ser feliz' [que pode ser lido clicando aqui].

A Finlândia é o país do momento quando o assunto é educação. Não posso provar nada, mas já li várias reportagem (uma, inclusive, da Ministra da Educação ou cargo equivalente de lá) que me saltaram aos olhos de tanto, digamos, progressismo educacional. É de lá que vem as ideias, completamente opostas à nossa, de deixar alunos o menos possível nas escolas, de entrar mais tarde no primeiro turno e de aniquilar conteúdos isolados, como matemática isenta de física, por exemplo. Desnecessário dizer que o país dá um suporte enorme à classe docente, coisa que não ocorre na “Pátria Educadora”.

Sou contra, sobretudo quando falamos de educação, à adoção de instruções prontas que partem de conjunturas completamente distintas das que vivemos por aqui. No entanto, é preciso avaliar, pensar e repensar práticas nossas do dia a dia escolar. É necessário rever as estruturas escolares, físicas (até!) e humanas, e parar de tapar o sol com a peneira.

Penso que ainda estamos longe, bem longe, da significância tão almejada pelo ensino. Andamos igualmente longe da realidade humana dos nossos ouvintes de sala e não temos projeto concreto algum para mudar isso. As práticas recentes – a interdisciplinaridade, por exemplo – não têm dado muito resultado ou pelo menos seus aprendizados não têm sido muito veiculados e difundidos pelas escolas do país. Ainda nos limitamos e poucos e isolados projetos que maquiam a realidade docente, com bons e regulares projetos, mas a maioria deles não têm continuidade e vivência.

Então, seja verdade ou devaneio, olhar para a Finlândia é o que temos por agora.
Estudemos.

QUANDO A ESCOLA DEIXAR DE SER UMA FÁBRICA DE ALUNOS

Artigo do site português Público, de Catarina Fernandes Martins.

O artigo em questão traz um questionamento bastante caro aos educadores de hoje: como modificar a escola para que ela deixe de ser um depósito de alunos e passe a, efetivamente, cuidar do intelecto de nossas crianças e jovens?

Como o texto é bastante abrangente e completo, resta pouca coisa a acrescentar, mas muito a problematizar. Pensemos: a escola tradicional ainda dá resultados? Os alunos ainda se motivam e querem estar naquele ambiente? Professores têm prazer em frequentar aquele prédio? Os alunos se entendem como criadores de conhecimento? ...

Essas e outras perguntas merecem uma reflexão madura e crítica.


"A escola de massas, onde um professor ensina ao mesmo tempo e no mesmo lugar dezenas de alunos, nasceu com a revolução industrial mas chegou ao século XXI. Em dois séculos, mudaram os estudantes, mudou a sociedade e mudou o mercado de trabalho. Quando mudará a escola?"

FÉRIAS

Depois de um ano de bastante trabalho, desejo boas férias a todos. Que esse período de recesso seja bom para todos nós, com diversão consciente e bons momentos de conivência.

TODOS OS PAÍSES QUE REDUZIRAM A MAIORIDADE PENAL NÃO DIMINUIRAM A VIOLÊNCIA

Importante artigo do "Pragmatismo Político" sobre a tão polêmica questão da redução da maioridade penal. Só seremos capazes de opiniões relevantes sobre o tema se tivermos informações de todos os lados.

Nos 54 países que reduziram a maioridade penal não se registrou redução da violência. A Espanha e a Alemanha voltaram atrás na decisão de criminalizar menores de 18 anos. Hoje, 70% dos países estabelecem 18 anos como idade penal mínima

Por Frei Betto

Voltou à pauta do Congresso, por insistência do PSDB, a proposta de criminalizar menores de 18 anos via redução da maioridade penal.

De que adianta? Nossa legislação já responsabiliza toda pessoa acima de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, o menor infrator deve merecer medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida é aplicada segundo a gravidade da infração.

Nos 54 países que reduziram a maioridade penal não se registrou redução da violência. A Espanha e a Alemanha voltaram atrás na decisão de criminalizar menores de 18 anos. Hoje, 70% dos países estabelecem 18 anos como idade penal mínima.

O índice de reincidência em nossas prisões é de 70%. Não existe, no Brasil, política penitenciária, nem intenção do Estado de recuperar os detentos. Uma reforma prisional seria tão necessária e urgente quanto a reforma política. As delegacias funcionam como escola de ensino fundamental para o crime; os cadeiões, como ensino médio; as penitenciárias, como universidades.

O ingresso precoce de adolescentes em nosso sistema carcerário só faria aumentar o número de bandidos, pois tornaria muitos deles distantes de qualquer medida socioeducativa. Ficariam trancafiados como mortos-vivos, sujeitos à violência, inclusive sexual, das facções que reinam em nossas prisões.

Já no sistema socioeducativo, o índice de reincidência é de 20%, o que indica que 80% dos menores infratores são recuperados.

Nosso sistema prisional já não comporta mais presos. No Brasil, eles são, hoje, 500 mil, a quarta maior população carcerária do mundo. Perdemos apenas para os EUA (2,2 milhões), China (1,6 milhão) e Rússia (740 mil).

Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, e não a causa. Ninguém nasce delinquente ou criminoso. Um jovem ingressa no crime devido à falta de escolaridade, de afeto familiar, e por pressão consumista que o convence de que só terá seu valor reconhecido socialmente se portar determinados produtos de grife.

Enfim, o menor infrator é resultado do descaso do Estado, que não garante a tantas crianças creches e educação de qualidade; áreas de esporte, arte e lazer; e a seus pais trabalho decente ou uma renda mínima para que possam subsistir com dignidade em caso de desemprego.
Segundo o PNAD, o adolescente que opta pelo ensino médio, aliado ao curso técnico, ganha em média 12,5% a mais do que aquele que fez o ensino médio comum. No entanto, ainda são raros cursos técnicos no Brasil.

Hoje, os adolescentes entre 14 e 17 anos são responsáveis por consumir 6% das bebidas vendidas em todo o território nacional. A quem caberia fiscalizar? Por que se permite que atletas e artistas de renome façam propaganda de cerveja na TV e na internet? A de cigarro está proibida, como se o tabaco fosse mais nocivo à saúde que o álcool. Alguém já viu um motorista matar um pedestre por dirigir sob o efeito do fumo?

Pesquisas indicam que o primeiro gole de bebidas alcoólicas ocorre entre os 11 e os 13 anos. E que, nos últimos anos, o número de mortes de jovens cresceu 15 vezes mais do que o observado em outras faixas etárias. De 15 a 19 anos, a mortalidade aumentou 21,4%.

Portanto, não basta reduzir a maioridade penal e instalar UPPs em áreas consideradas violentas. O traficante não espera que seu filho seja bandido, e sim doutor. Por que, junto com a polícia pacificadora, não ingressam, nas áreas dominadas por bandidos, escolas, oficinas de música, teatro, literatura e praças de esportes?


Punidos deveriam ser aqueles que utilizam menores na prática de crimes. E eles costumam ser hóspedes do Estado que, cego, permite que dentro das cadeias as facções criminosas monitorem, por celulares, todo tipo de violência contra os cidadãos.

Que tal criminalizar o poder público por conivência com o crime organizado? Bem dizia o filósofo Carlito Maia: “O problema do menor é o maior.”

POR QUE AS COTAS INCOMODAM TANTO?

“A cota não substitui a necessidade de repensarmos a educação de base, mas impede que a disparidade racial do país aumente”. Confira o relato de uma ex-cotista, negra, graduada, gerente de uma empresa, que durante a vida acadêmica teve de enfrentar o ódio dos anticotistas

Por Pragmatismo Político,

A adolescência de Gabriela Moura foi parecida com a de muitas jovens negras, moradoras de periferias das grandes cidades brasileiras. Filha de uma costureira que já havia sido babá e empregada doméstica, o sonho de entrar numa universidade pública chegava a ser considerado uma audácia. “O ensino superior não era um direito de todos. Nós, que estávamos às margens da cidade, geralmente acabávamos por servir os que estavam no topo”, relata, em artigo publicado no blog que ela própria alimenta, o Gabinoica, etc. Hoje, aos 27 anos, Gabriela conta como conseguiu deixar as probabilidades pra trás e não só ingressar na Universidade Estadual de Londrina (UEL), pelo sistema de cotas, como se formar em Relações Públicas e, aos 24 anos, assumir a gerência de uma empresa.

O caminho não foi fácil: ao ingressar no ensino superior através de cota, teve que enfrentar a ira dos não-cotistas e ouvir que o sistema “é racismo inverso contra brancos” e que “cria vagabundos” – essa última, na opinião da autora, “possivelmente a acusação mais esdrúxula neste mar de chorume racista”. “Cotas funcionam, sim. E incomodam, também. Incomodam porque provam que vestibular não serve mais pra nada, e porque ‘mescla’ um ambiente que, até dez anos atrás, era homogêneo. Branco. As cotas provam que elite intelectual é um termo inventado para deprimir e assustar aqueles que não possuem grandes quantias de dinheiro para serem gastas em escolas que vendem mais imagem do que conhecimento”, opina Gabriela. “A prática não deixa muita dúvida: educação é para quem pode comprar”.

Leia abaixo a íntegra do texto de Gabriela Moura.

Eu, ex-cotista, “vagabunda”

Eu não vou conseguir ser linear, mas espero que entendam os pormenores desta história íntima. Eu morei 10 anos em Londrina, no norte do Paraná, em um bairro de periferia chamado Jardim Leonor e estudava em uma escola estadual. Na época não era assim muito comum ter sonhos além de chegar ao final do ensino médio, então a falta de credibilidade das pessoas em mim já começava ai. As pessoas, menos a minha mãe. Quando eu tinha 16 anos eu decidi mudar de período na escola, indo do matutino ao noturno, para que assim tivesse um tempo para trabalhar e pagar o cursinho pré-vestibular. E isso já era uma audácia muito grande: desejar ingressar na Universidade Estadual de Londrina. A minha mãe não deixou que eu seguisse com estes planos, dizia que seria pesado demais conciliar trabalho e escola, e me sobraria pouco ou quase nenhum tempo livre pra diversão e coisas de adolescente. Por isso eu comecei a tentar estudar em casa mesmo, só com os materiais da escola – internet era um luxo inimaginável. Na verdade, nem computador eu tinha, e não tinha vaga ideia de quando eu teria um. A minha mãe trabalhava como costureira autônoma.

Tudo isso para explicar que: era impossível pagar cursinho, era impossível pagar escola particular e o que eu tinha era um punhado de livros e o sonho de ingressar no curso de Relações Públicas da UEL. Essa era uma situação risível no meio onde eu vivia. O ensino superior não era um direito de todos. Nós, que estávamos às margens da cidade, geralmente acabávamos por servir os que estavam no topo. Era muita audácia da minha parte.

Para encurtar esta parte da história: Em fevereiro de 2005 eu fui a uma festa promovida pela rádio pop local, que divulgaria o resultado do vestibular ao vivo, e quando eles distribuíram o jornalzinho do resultado (patrocinado pelo maior colégio particular da cidade, risos), meu nome estava lá, e naturalmente minha mãe chorou quando recebeu a notícia por telefone, um celular que eu peguei emprestado de um amigo.

Estaria tudo ok se não fosse um porém: eu era cotista. Isso aí é como se eu carregasse alguma placa em neon piscante dizendo que eu não pertencia àquele lugar. Desde o começo eu ouvi manifestações hostis de pessoas que diziam abertamente que eu não deveria estar ali, pelos seguintes motivos:

– Elas estudaram muito, pagaram 2, 3, 4 anos do cursinho mais caro da cidade justamente para terem mais chance.
– Um possível mau desempenho meu atrasaria a turma toda.
– É racismo inverso contra brancos (sic).
– Cria vagabundos.

Eu queria explicar estes pontos de maneira ponderada e organizada, mas não dá. A explicação vai vir bagunçada, tal como a bola de ódio nutrida contra cotistas nas turmas de 2005 da Universidade Estadual de Londrina.

Pra começar, vocês precisam entender que eu não acredito no sistema de vestibulares como seleção de pessoas inteligentes e aptas a esse grande portal de suposição de superioridade intelectual chamado Universidade. Pra mim, o ensino deveria ser universal. E para o vestibular nós nos matamos para compreender ou decorar coisas que às vezes fazemos questão de esquecer o mais rápido possível, porque temos (ou deveríamos ter) direito de escolher as áreas que gostamos mais. Meus conhecimentos em química evaporaram tão rápido quanto perfume ao sol. Mas em mim ficou a Geografia Política, que eu fazia questão de ser a melhor aluna da sala, História, Literatura e os idiomas. E era isso que eu queria continuar estudando. O vestibular é um funil desgraçado e cruel.

As escolas moldam crianças e adolescentes para passarem em provas “difíceis”, abordando questões pouco compreensíveis e ignorando toda a realidade social, só para estampar a cara do aluno vencedor e fazer dele uma mídia espontânea, que trará mais alunos para a escola e, assim, mais dinheiro. Conhecimento pode ser adquirido, mas não deveria ser tão difícil. Desde mensalidades, até preços de livros, é tudo um grande obstáculo. Quem trabalha com educação sabe disso ainda melhor do que eu, por ter uma visão global e maior conhecimento sobre a influência econômica no sistema educacional. Mas a prática não deixa muita dúvida: educação é para quem pode comprar.

Sobre o racismo inverso a gente finge que não ouviu, pro bem da nossa saúde mental. E se insistirem, uma aula explicando o massacre das populações negras deveria ser suficiente. Se não for, é porque o ouvinte é mau-caráter, mesmo. E também me surgia a dúvida: a pessoa estuda 4 anos em escola particular e culpa uma cotista de ter roubado a vaga? Não soa razoável. Mas dinheiro ainda importava.

Ai vem a nova parte da minha novela.

Sobre a vagabundagem cotista: possivelmente a acusação mais esdrúxula neste mar de chorume racista. O curso de Relações Públicas não é dos mais caros. Os livros saem por cerca de 40 reais. A exceção são os livros de Economia e Marketing que, às vezes, passam dos 100. Mas todo aquele volume de xérox começou a falir a conta bancária que eu já não tinha. E, em certos dias, eu precisava escolher entre pagar 3 reais de passagem de ônibus ou usar estes mesmos 3 reais para comprar comida. Dentro do ambiente acadêmico, porém, o desempenho era equivalente. Eu não sentia que era menos capaz do que meus colegas oriundos de escolas particulares.

Então eu ingressei em um projeto chamado Afroatitude, que unia alunos cotistas de 10 universidades públicas:

“O Programa Nacional Afroatitude propicia aos alunos negros bolsas para desenvolverem projetos com os temas: Cultura e População Negra/Discriminação Racial, Vulnerabilidade Social, Prevenção das DST/AIDS e Direitos Humanos. Na UEL, o relatório final dos bolsistas Afroatitude que participaram de projeto de iniciação científica (2005-2007) deu-se com a entrega de um artigo sob supervisão do orientador. Os trabalhos foram surpreendentes, considerando que se tratavam de alunos da primeira série, que descortinavam um mundo extremamente novo em relação ao seu cotidiano, quer como vivência em sala de aula, quer como participação em projetos.”

Fonte: http://www.uel.br/revistas/afroatitudeanas/?content=apresentacao.htm

Com este projeto eu entrei em contato com a cultura negra, o que me era inédito, usei o dinheiro da bolsa pra comprar o primeiro computador da minha vida, estudei a vulnerabilidade da população negra e isso serviu de estopim pra tudo o que eu sou hoje. Apoiados pela Secretaria dos Direitos Humanos do Governo Federal, nós tivemos a chance de estudar a influência e as carências das populações negras das regiões em que vivíamos, e pudemos finalmente ter a noção do tanto de trabalho que ainda havia a ser feito. Eu não sei se consigo ser objetiva neste ponto e explicar direito a importância deste projeto em minha vida. Digamos que minha intelectualidade ganhou na loteria acumulada. Muita riqueza de informação. Em paralelo a isso, eu queria entender por que alguns colegas insistiam que eu e meus demais amigos cotistas éramos inúteis e tão dispensáveis, e por que não deveríamos estar ali. Na época era algo que eu não conseguia nem começar a explicar, e me restava ficar calada em situações constrangedoras, como quando pessoas riram ao assistir “Quanto Vale? Ou é por quilo?”, chamando objetos de tortura de escravos de “enfeite pra cara”.

Me deem um desconto, eu era uma piveta de 17 anos sem muito acesso à informação. Felizmente, 4 anos foram suficientes pra provocar uma tormenta em mim, que me deixou cada dia menos tolerante a provocações racistas.

Eu me formei em 2008, sem ter a minha foto de criança exposta no painel da festa, como meus outros colegas, por eu não ter conseguido pagar a festa. Eu fui como convidada de uma amiga.

Eu me formei odiando festas de formatura e me sentindo deslocada.

Mas o que é importante dizer que cotas funcionam, sim. E incomodam, também. Incomodam porque provam que vestibular não serve mais pra nada, e porque “mescla” um ambiente que, até 10 anos atrás, era homogêneo. Branco. As cotas provam que elite intelectual é um termo inventado para deprimir e assustar aqueles que não possuem grandes quantias de dinheiro para serem gastas em escolas que vendem mais imagem do que conhecimento. Ou para manter estas pessoas longe da preocupação da escola pública, porque afinal, pra que se preocupar com a escola da filha da empregada se a tua cria pode estudar no palácio do centro?

Como costureira, empregada e babá, a minha mãe passou a vida construindo sonhos comigo. O sistema de cotas me ajudou a realizar um deles, Mas esta é a visão individualista, e vocês precisam entender o impacto global disto. Sendo cotista, eu ingressei em um excelente curso de uma excelente instituição, recebi um tsunami de cultura negra que me empoderou de uma forma que eu nem imaginei que fosse possível. Já formada, eu passei a me preocupar em ser uma multiplicadora, levando pra frente o que eu aprendi com o Afroatitude, e faço questão de empoderar cada jovem negro que passa pela minha vida. Com o sistema de cotas eu enfrentei a sociedade mimada, acostumada a ser bem dividida entre os que nasceram pra servir e os que nasceram pra serem servidos, e eu trabalho até hoje contra segregação racial. E vou continuar trabalhando enquanto meu corpo e minha mente permitirem.

Como profissional de Relações Públicas, aos 24 anos eu alcancei a posição de gerência da empresa onde trabalhei. Não me soa nada ruim.

Eu voltei a estudar em 2010, desta vez escolhi aprender a ler, escrever e falar árabe coloquial e árabe clássico. Estudei cinema árabe, literatura árabe, filosofia árabe, história árabe.

O sistema de cotas para negros é bem simples de entender, ele é feito para a inserção de pessoas negras na universidade. Ele não substitui a necessidade de repensarmos a educação de base, mas impede que a disparidade racial do país aumente. O sistema de cotas não é outra coisa, senão um sistema inclusivo. Também é leviano chama-lo de “esmola governamental”, porque uma das obrigações do governo é justamente zelar pelo bem estar de seus cidadãos, e os cotistas estão apenas utilizando um direito, que é o de estudar. Errado é achar que, porque estas pessoas não tiveram 1.500 reais por mês durante 15 anos, não merecem entrar pelos portões da frente do ensino superior. O sistema de cotas incomoda porque mostra que dinheiro pode comprar coisas, pode até comprar gente, mas não pode comprar humanidade.

E, por falar em conhecimento, um sem-número de artigos já explicaram a real eficiência desta solução, então não é difícil a compreensão.

Há também quem busque invalidar toda a experiência dos cotistas, afirmando que a única solução correta e eficiente seria a reforma total do ensino de base, apenas. Eu talvez preste atenção nisto no dia que todos os pais puderem educar seus filhos com as mesmas condições econômicas, e isso inclui os empregados de quem desqualifica os cotistas.

Fascismo à brasileira

Artigo de Leandro Dias para o site Pragmatismo Político

Parece crescente e cada vez mais evidente no Brasil que importantes setores da classe média e classe alta simpatizam com ideais semelhantes aos que formaram o caldeirão social do fascismo

Fonte: Pragmatismo Político
Historicamente a adesão inicial ao fascismo foi um fenômeno típico das classes dominantes desesperadas e das classes médias empobrecidas e apenas pontualmente conquistou os estratos mais baixos da sociedade, ideologicamente dominados pelo trabalhismo social-democrata ou pelo comunismo. Nos mais diversos cantos do mundo, dos nazistas na Alemanha e camisas-negras na Itália, aos integralistas brasileiros e caudilhistas espanhóis seguidores de Franco, as classes médias, empobrecidas pelas sucessivas crises do pós-guerra (1921 e especialmente 1929), formaram o núcleo duro dos movimentos fascistas.

Esse alinhamento ao fascismo teve como fundo principal uma profunda descrença na política, no jogo de alianças e negociatas da democracia liberal e na sua incapacidade de solucionar as crises agudas que seguiam ao longo dos anos 1910, 20 e 30. Enquanto as democracias liberais estavam estáveis e em situação econômica favorável, com certo nível de emprego e renda, os movimentos fascistas foram minguados e pontuais, muito fracos em termos de adesão se comparados aos movimentos comunistas da mesma época. Porém, uma vez que a democracia liberal e sua ortodoxia econômica mostraram uma gritante fraqueza e falta de decisão diante do aprofundamento da crise econômica nos anos 1920 e 30, a população se radicalizou e clamou por mudanças e ação.

Lembremos que, quando os nazistas foram eleitos em 1932, a votação foi bastante radical se comparada aos pleitos anteriores; 85% dos votos dos eleitores alemães foram para partidos até então considerados mais radicais, a saber, Socialistas (social-democracia), Comunistas e Nazistas (nacional-socialistas), os dois primeiros à esquerda e o último à direita. Os conservadores ortodoxos, anteriormente no poder, estavam perdidos em seu continuísmo e indecisão, sem saber o que fazer da economia e às vezes até piorando a situação, como foi o caso da Áustria até 1938, completamente estagnada e sem soluções para sair da crise e do desemprego, refém da ortodoxia de pensadores da escola austríaca, tornando-se terreno fértil para o radicalismo nazista (que havia fracassado em 1934).

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