Propaganda na Guerra Fria

Se os combates diretos entre as duas potências vencedoras da 2ª Guerra Mundial não chegaram à efetividade, a guerra ideologia e de propaganda foi intensa. Abaixo, selecionei alguns links que trazem propagandas veiculadas tanto nos EUA quanto na URSS à época da Guerra Fria.

Propagandas da Guerra Fria, Publistorm;
Cartazes de propaganda da Guerra Fria, Geografia e tal;
A propaganda como arma da Guerra Fria (desenhos animados e sua relação com a Guerra Fria), Overdose.



MST: Trabalho de Sociologia

Trabalho sobre a aula 3 – Sociologia (30/07)

Objetivo: propor um debate1 sobre a propriedade privada como instituição social.

Metodologia: a turma será dividida em dois grandes grupos que participarão do debate sobre o papel do MST, da propriedade privada e da reforma agrária. Nosso mote é o texto de Saramago na apostila, por isso é fundamental ter o material em mãos. Os grupos não precisarão ter, obrigatoriamente, o mesmo número de componentes, ou seja, um grupo pode ter 15 pessoas, ao passo que o outro tenha 20. A escolha do grupo se dará por opção e acordo/desacordo com os textos disponibilizados.

Materiais de apoio: os grupos terão à disposição 5 materiais, entre textos e vídeos. Os textos estão disponíveis desde já na Internet, assim como os vídeos (disponíveis no final do texto).

O trabalho será todo realizado em sala de aula (ou em outros espaços que vocês podem sugerir) somente na aula de Sociologia.

O trabalho valerá 40 pontos.

1 Um bom debate pressupõe aceitação da opinião do outro, espaço ao contraditório e, principalmente, respeito à fala dos colegas. Radicalismos e intolerâncias não são bem-vindos.


Vídeos:







Revolta de longa data

Separadas por mais de dois séculos, as manifestações que tomam as ruas do Brasil, hoje, têm semelhança com as que ocorreram durante o Antigo Regime

Gefferson Ramos Rodrigues

Para historiadores e cientistas sociais, os eventos que vêm ocorrendo no Brasil nos últimos dias funcionam como uma espécie de laboratório no qual várias teorias são testadas para explicar os acontecimentos. Aos historiadores esse é um desafio ainda maior, já que por estarem mais habituados a refletir sobre o tempo longínquo, a “História do Tempo Presente” se torna mais difícil. É mais fugidia, como há muito advertiu Fernand Braudel. Nem por isso deve se furtar da tarefa de fazê-la.

Aos que conhecem um pouco mais de perto a história dos protestos populares, os acontecimentos recentes podem parecer surpreendentes por sua semelhança com o que se passou há dois ou três séculos no continente europeu e também nas colônias na América. Vários pontos em comum poderiam ser apontados, três se apresentam de maneira muito explícita: o aumento de preços de serviços, o discurso repressor das autoridades e a veiculação de boatos de diferentes tipos.

No momento, já se tornou evidente que as manifestações não eram apenas pelo aumento de 20 centavos na passagem de ônibus em algumas capitais. Porém, quando se argumentou que os manifestantes protestavam por um valor que parecia irrisório, isso não era só uma maneira de desmerecê-los, mas também era uma forma de reduzir as reivindicações das pessoas na rua a apenas uma única causa. Essa era uma impressão muito parecida com a que se tinha dos protestos dos séculos XVII e XVIII. Neste período, dizia-se que bastava apenas uma má colheita provocar uma alta repentina dos preços para que as pessoas ganhassem as ruas e protestassem contra o aumento do preço dos alimentos, como as que aconteceram na França e Inglaterra nas primeiras décadas do século XVIII.

Como os acontecimentos recentes revelaram, o aumento do preço das passagens serviu apenas como um estopim. No Antigo Regime não era muito diferente: quando estourava um protesto, além dos moradores das Vilas se rebelarem contra medidas que causassem o aumento dos custos de vida, eles aproveitavam-se ainda para mostrar toda a sua insatisfação com relação à arbitrariedade de autoridades; ganância de comerciantes; falta de cuidado na administração dos bens da comunidade, entre várias outras queixas. Tanto em uma, quanto em outra época, a questão fiscal desempenhava o papel de catalisar os mais diversos tipos de tensões que estavam latentes na sociedade.

Outra semelhança está no discurso dos governantes. Quando se iniciaram as primeiras manifestações recentes, os discursos dos políticos foram taxativos em classificar os manifestantes como “vândalos”, sempre com respaldo da grande imprensa. Não era muito diferente dos protestos da América portuguesa, por exemplo, em que as autoridades classificavam os rebeldes de bárbaros, principalmente quando havia o envolvimento de negros e índios. Ou seja, parece o mesmo discurso. Seria uma mera coincidência? Afinal, o que aqueles que representavam o poder constituído pretendiam – no passado – conseguir com isso? Classificar as populações de bárbaros ou vândalos não era apenas recurso de retórica. Isso servia para endossar uma repressão violenta seja aos rebeldes do século XVIII, seja aos manifestantes do século XXI.

No mês passado, a opinião dos governantes só começou a mudar quando jornalistas dos grandes meios de comunicação foram alvos da repressão policial. A maneira como a mídia cobria os eventos – inicialmente condenando, mas depois apoiando os de ordem “pacífica” – foi decisiva para essa mudança de percepção. Àqueles que acompanharam os protestos pela internet ou pela televisão facilmente se deram conta das dificuldades para se obter informação segura. Haviam muitas notícias desencontradas, algumas delas veiculadas e rapidamente corrigidas, outras falsas intencionalmente disseminadas com o objetivo de criar um clima de pânico na população.

No Antigo Regime, um dos acontecimentos que talvez melhor exemplifique esse ambiente, certamente tenha sido na Revolução Francesa, durante os meses de julho e agosto, de 1789, momento que ficou conhecido de “O Grande Medo”, sobre o qual Georges Lefebvre escreveu uma obra clássica. Na França, os camponeses receosos que a extinção dos direitos feudais pudesse resultar numa exploração ainda maior dos seus trabalhos, saquearam propriedades, castelos e igrejas, espalhando o pânico entre a população. Nesse período as comunicações eram difíceis e a escassez de informações facilitava a disseminação de boatos. Tanto no Antigo Regime quanto nos dias atuais percebemos uma grande proliferação de rumores. A diferença é que antes eles surgiam em razão da escassez de informações, ao passo que agora são ocasionados pelo excesso.

Apesar dessas características comuns não se pode dizer que o movimento que ainda ganha as ruas do Brasil não seja um fato novo. Ao historiador que se arrisca a escrever a História “no calor do acontecimento” é preciso muita cautela. Os protestos populares guardam a característica de serem imediatos, suas demandas precisam ser atendidas rapidamente, sob o risco de se perder o controle da situação e, nesse aspecto, é possível considerar que os protestos que aconteceram até então foram bem sucedidos, pelo menos em seus objetivos iniciais. As passagens não foram apenas reduzidas como desencadeou um verdadeiro processo de redução das tarifas nas principais capitais do país. É certo que as reivindicações não se reduziam somente a isso e demandas importantes da sociedade brasileira ainda precisam ser alcançadas. Os desdobramentos dos protestos ainda não são conhecidos e somente as rupturas que forem feitas irão dizer se se esta diante de um protesto incomum.


Gefferson Ramos Rodrigues é mestre em História pela UFF.

Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/revolta-de-longa-data

Ciro Flamarion – ao professor e historiador marxista

Qualquer homenagem a um dos maiores historiadores do Brasil fica pequena após a publicação do texto da Professora Virgínia Fontes. Ciro Flamarion, presente!

Virgínia Fontes


A História está de luto: a história do Brasil, a história antiga, a história contemporânea, a história que produzimos em cada dia na vida social, a história refletida e pensada por alguns historiadores, a história que se faz nas ruas, a história comprometida com a luta social e com uma reflexão aguda e crítica. Perdemos há 15 dias atrás, no dia 29 de junho de 2013 um dos nossos maiores historiadores, Ciro Flamarion Santana Cardoso.

Raros intelectuais tiveram uma vida como a de Ciro, totalmente dedicada à pesquisa e à docência. Leitor voraz, professor em tempo integral, dedicadíssimo aos cursos e à tarefa dupla e complexa de produzir e socializar conhecimento. Muitos desses cursos aliás se tornaram livros. Ciro preparava suas aulas meticulosa e minuciosamente, de tal maneira que os alunos dispunham de textos originais altamente qualificados sobre o tema trabalhado. E isso não apenas em cursos de mestrado ou doutorado, pois Ciro era rigoroso e generoso em todas as aulas que dava, sobretudo na graduação de História, onde atuou durante muitos anos. Não escondia seus novos textos: eles integravam plenamente sua vida docente, sua relação com os alunos, com seus colegas e com o mundo dos historiadores.

Numa época em que a pressão pela quantidade desdenha a qualidade e impede a reflexão crítica, Ciro nos ensinou a necessária dialética entre quantidade e qualidade: realizou uma produção de enormes dimensões, sempre com altíssimo nível de elaboração. Tendo como característica pessoal o profissionalismo e uma enorme exigência de qualidade, Ciro Flamarion não engrossou o coro dos que aderiram a uma história convertida em turismo temporal, em repositório de curiosidades ou descompromissada, na trilha de um mercado que tendeu a esvaziar a reflexão histórica de seus maiores desafios. Navegou na contramão da hiper-especialização e se dedicou a fundo a múltiplas questões, ultrapassando na prática as cercas que instauram quase cinturões de propriedade para certos temas ou períodos históricos.

Jamais atacou novidades mas criticava duramente os novidadeiros, aqueles que enveredavam pelo primeiro caminho da última moda e, com o afinco dos recém-conversos, orgulham-se de desconhecer completamente o árduo percurso prévio, desqualificando-o de antemão. O meio historiador é sacudido de tempos em tempos por alguma moda que, como incêndio em pradaria, parece garantir um lugar ao sol para os mais rápidos aderentes. Para os que não sabem, o âmbito dos historiadores é uma área bastante competitiva em termos de carreira e de reconhecimento, e tais novidades, em geral aportadas do exterior por mãos bem treinadas, tornam-se rapidamente jargão repetido, até seu completo esgotamento. Entre o início gritante e a decadência silenciosa há tempo para consolidar algumas carreiras.

O mundinho dos historiadores, como em qualquer disciplina, convive com diferenças e divergências e elas são – ou deveriam ser – algo de corriqueiro. Como lembra Pierre Bourdieu – de quem Ciro Flamarion, aliás, não foi um adepto – a principal linha de fratura entre as ciências sociais é a que separa os que consideram que a sociedade é cindida em classes e os que consideram essa cisão inexistente. A mera adesão a um dos lados dessa permanente luta não garante por si só um trabalho de pesquisa melhor, mas define lados em permanente conflito, dentro e fora das universidades. O abandono das chamadas “grandes teorias”, que partem das grandes fraturas sociais estruturais – e suas razões – tende a gerar textos menos comprometidos com as questões sociais cruciais. Por vezes, gera pesquisas refinadas, de longo fôlego, com profundas marcas de erudição. Mas exatamente pelo aparente desinteresse e descompromisso com a luta que atravessa a vida social e demarca o próprio campo científico, também abre a brecha para que o compromisso se limite aos valores de troca dominantes, ou seja, o mercado (mercado editorial, mídia, etc.) e com seu equivalente interno ao campo, o “mercado do reconhecimento inter-pares” (publicações, viagens, convites, bolsas, etc.). Ciro tinha posição, não perseguia seus opositores e, ao contrário, abria intensos e fecundos debates. Não se pode dizer o mesmo com relação a muitas outras tendências teóricas que eliminam sem escrúpulos qualquer odor de marxismo, mesmo se discreto...

Essa postura de Ciro Flamarion se refletia também na sua atuação institucional. Defendendo uma profissão historiadora na qual seus trabalhadores sejam dignamente remunerados e tenham acesso pleno às condições de trabalho, ele procurou sempre estabelecer parâmetros igualitários para que isso pudesse ocorrer, refutando as propostas que, apoiadas imediatamente pelos mais rápidos e preocupados apenas consigo mesmos, desconsideram a necessidade de elaborar projetos coletivos, de assegurar direitos a todos. Participei de várias comissões na UFF juntamente com Ciro Flamarion e muito aprendi: não se tratava apenas de premiar os mais aptos, como muitas vezes era imposto tanto de cima para baixo, quanto ecoava nos corredores universitários em lutas intestinas ferrenhas. Admitia a existência de bons trabalhos em qualquer área teórica, mas não da forma apressada e exacerbadamente competitiva como alguns queriam. Envolvia considerar o conjunto das atividades docentes (ensino, pesquisa, extensão), e não apenas um parâmetro exclusivo, imediatamente mensurável. Ciro defendia o estabelecimento de verdadeiras políticas, com a definição de critérios comuns, dignos e abertos, para que todos pudessem atingir a formação necessária, garantir uma docência de alto nível e realizar uma produção bibliográfica condizente. É preciso lembrar que, sob qualquer critério, Ciro Flamarion era sempre o mais produtivo. Jamais aceitou privilégios ou exigiu tratamento diferenciado – ao contrário, exercitou na prática de sua própria existência os critérios que defendia. Foi uma pessoa rara.

Se Ciro tinha clareza do lado em que estava nesse complexo conflito que atravessa nossa vida social e o mundo dos historiadores, sua principal atuação política ocorria no cotidiano do trabalho docente e intelectual. Era um leitor atento e arguto de todas as tendências historiográficas e teóricas e nunca se limitou a estudar apenas autores de sua própria convicção. Por isso, como apenas grandes pensadores e exímios profissionais são capazes, Ciro não só cultivou como afiou o viés crítico e o debate teórico permanente, sólido e rigoroso, enfrentando um a um todos os autores e modismos que se abateram sobre a história e nunca o fez de maneira aligeirada. Procurava compreender o que de fato havia de novo, descartar o efêmero e enfrentar os verdadeiros problemas intelectuais, teóricos e historiográficos, sem perder de vista que ser historiador não deve ser nem uma carreira burocrática nem uma louca corrida pelos lucros mercantis: ser historiador envolve enorme compromisso com a emancipação humana em todos os âmbitos da existência, o que envolve a capacidade de pensar crítica e livremente e a exigência da produção de relações humanas pautadas na igualdade social.

Enfrentou claramente os modismos, sempre produzindo sólidos artigos combatentes, que nunca se limitaram a comentários passageiros, ajudando a consolidar uma tradição historiadora crítica e exigente. Como raros, Ciro Flamarion sabia que não era o período estudado o que definia a contribuição dos historiadores, mas a questão enfrentada, assim como a forma de abordá-la; era a interrogação que presidia a pesquisa, gestada a partir de uma densa básica teórica e de profundo estudo historiográfico, quem abria a possibilidade do novo. E o novo, na maioria dos casos em que é fundamental, não é novidadeiro.

Ciro Flamarion foi um intelectual marxista em sentido pleno: era um estudioso da teoria, um pesquisador no âmbito do empírico, do teórico e do historiográfico, um elaborador de profundas reflexões históricas, teóricas e metodológicas. Não era um marxista de circunstância e, por conhecer a fundo as múltiplas teorias históricas, sabia pertinentemente que nenhum outro ambiente teórico abria tantas possibilidades de explicação e de compreensão do mundo, em diversas áreas do conhecimento. Melhor do que ninguém, Ciro sabia que a história é um processo complexo e que descortinar as grandes contradições e questões, tarefa central dos historiadores, é uma das condições da luta social. Desconhecer a causa teórica que Ciro abraçou toda a sua vida falsifica sua biografia e sua coerência como historiador, como professor e como pessoa.

Além do historiador, do intelectual marxista e combativo, perdemos um homem raro. Ciro foi um homem de uma cultura e erudição raras, que gostava e conhecia bem literatura (ele adorava ficção científica), música, cinema, ópera, gastronomia. De enorme sensibilidade, lembro-me de pequeno episódio que me impactou. Almoçávamos juntos, como fizemos algumas vezes, e conversávamos sobre literatura. Ele comentou que havia relido o conto – integral – de Andersen, A pequena sereia. Comentei que esse conto marcara enormemente minha infância. A sereiazinha, para adequar-se a um ser humano por quem se apaixonara, aceita uma vida inteira de enormes sacrifícios. Ela deveria ser amada por ele e, ainda assim, caminharia sobre agulhas. Se o amor dele lhe faltasse, ela se converteria em espuma do mar. Lembro-me, criança, de me deparar com o sentido da injustiça. Mais tarde vim a perceber que o conto traduzia para mim, de maneira refinada e extremamente dolorosa, o percurso socialmente sugerido para as mulheres. Ciro estava com os olhos cheios d'água e comentou que a cada vez que lia ou pensava nesse conto, ficava embargado de emoção.

Ciro gostava de boas coisas. Gourmet (conhecedor de gastronomia) mas sobretudo gourmand (guloso), trocava receitas e dicas de culinária e de vinhos; reconhecia uma cantora de ópera, ouvindo a melodia que tocava em minha casa, através do telefone no qual falávamos. Gostava de uma boa conversa. Quando vivi no exterior, era uma honra e uma felicidade receber suas cartas, pois nelas reencontrava Ciro Flamarion na íntegra: suas cartas me explicavam a situação brasileira, as condições da universidade, os grandes temas então em voga por aqui, me traziam suas novas pesquisas e suas interrogações.

Este homem enfrentou, com um senso de humor e uma leveza por vezes até desconcertantes, enormes desafios de saúde. Apesar do desconforto de muitas das operações a que foi submetido e que afinal resultaram na perda da visão de um dos olhos, Ciro ficou pouquíssimo tempo afastado das salas de aula. Suas licenças médicas duravam o tempo mínimo necessário para o restabelecimento e a convalescença ocorria em paralelo à sua plena atividade docente. Não se queixava e, ao contrário, fazia piadas e brincadeiras com o seu sofrimento. Dizia, por exemplo, que havia se tornado, de fato, um semiótico... Fui visitá-lo após uma dessas cirurgias e ele, mal conseguindo falar, me fazia rir.

Tive a sorte de conviver com Ciro como colega de Departamento, como mestre e como amigo, com a proximidade possível com um intelectual daquele porte. Sua perda é enorme para todos os que tem um sentido de profundo compromisso com a história que se vive, com a que procuramos construir e com a história que precisamos escrever. Ciro, você faz muita falta.

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